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sábado, 7 de fevereiro de 2015

Alves Redol

Recordando Alves Redol

«António Alves Redol nasceu em Vila Franca de Xira, em 1911. Com apenas 15 anos publica o seu primeiro artigo no jornal semanário local Vida Ribatejana, dando assim início a uma longa colaboração em jornais da região (para além da Vida Ribatejana, saliente-se o Mensageiro do Ribatejo) e de Lisboa (Notícias Ilustrado), onde publica artigos, crónicas e a sua primeira novela.»

«A qualidade literária dos seus textos cedo se impõe, mas também a sua atitude crítica face às desigualdades e problemas sociais que observa (na sua região, ou em Luanda, onde viveu alguns anos, ao longo dos quais enviou várias crónicas à Vida Ribatejana, refletindo as suas preocupações sociais, em torno da problemática da colonização portuguesa em África). Atento à realidade social e à vida comunitária da sua região, em particular da cidade de Vila Franca de Xira, em 1934, profere a sua primeira palestra no Grémio Artístico Vilafranquense, intitulada Terra de Pretos – Ambição de Brancos, sobre a colonização portuguesa em Angola, a que se seguirá, em 1936, uma conferência sobre Arte, onde defende os princípios fundadores do realismo socialista. No final deste mesmo ano publica o seu primeiro conto Kangondo, n’O Diabo e em 1938  o seu primeiro livro, Glória – Uma Aldeia no Ribatejo. Publica Gaibéus em 1939 – obra considerada marco fundador do movimento neorrealista português –, numa época em que é intensa a sua ação político-cultural. Fixa-se, entretanto, em Lisboa e, os anos que se seguem, assistem a uma produção (e publicação) literária de extrema relevância no quadro do movimento neorrealista português: Nasci com Passaporte de Turista (1940), Marés (1941), Avieiros (1942), Fanga (1943), até aos romances da sua fase de maturidade a partir de Olhos de Água (1954) e A Barca dos Sete Lemes (1958) até Barranco de Cegos (1961 ), sem esquecer o Teatro e a Literatura Juvenil e Infantil. Convive com escritores e artistas nacionais e estrangeiros, tendo assumido o cargo de secretário-geral da Secção Portuguesa do Pen Club, em 1947 e integrado, em 1948, a delegação portuguesa que participou no Congresso dos Intelectuais para a Paz, realizado na Polónia. Com o romance Horizonte Cerrado (escrito em 1949), o primeiro do Ciclo do Port-Wine, é-lhe atribuído, o Prémio Ricardo Malheiros, em 1950. A sua vasta produção literária integra ainda peças teatrais, literatura infantil, contos, traduções e estudos diversos. Alguns dos seus romances estão traduzidos em várias línguas. Alves Redol morreu em 1969; o seu romance Reinegros é postumamente publicado (1972).» Caminho



GAIBÉUS
O romance «Gaibéus» foi publicado pela primeira vez em 1939. É o ponto de partida da obra romanesca de Alves Redol. Mas é também o ponto de chegada de uma longa reflexão do autor sobre o significado e o papel da arte, o primeiro edifício do programa de uma literatura nova. Dessa reflexão de Redol ficou uma série de artigos publicados em jornais de Vila Franca de Xira, onde vivia — «Vida Ribatejana» (entre 1927 e 1934) e «Mensageiro do Ribatejo» (entre
1934 e 1940). De destacar ainda a conferência sobre arte, proferida em Vila Franca em 1936. Fiel ao seu ideário, Redol, antes de escrever «Gaibéus», realizou um amplo «trabalho de campo» — deslocou-se repetidas vezes à lezíria, chegou mesmo a instalar-se no campo para recolher dados sobre o trabalho nos arrozais. Os seus blocos de apontamentos contêm numerosas indicações técnicas sobre o cultivo do arroz. As próprias relações familiares lhe serviram de documento — o pai de Redol era oriundo da região de origem dos gaibéus. Hoje «Gaibéus» é comummente aceite como o romance que marca o aparecimento do neorealismo em Portugal. Eis o mundo que Alves Redol nos apresenta no seu primeiro romance. História da alienação de uma comunidade de trabalhadores, ficamos a saber até que ponto são explorados, e até que ponto essa exploração se deve à falta de união com outras comunidades de jornaleiros. «Gaibéus» é, assim, o romance do divórcio entre ganhões, uns procurando resgatar algumas bouças ou sulcos que ainda lhes pertencem, outros alheios ao que seja possuir qualquer chalorda ou mesmo canteiro. História simbólica do embate de duas diferentes mentalidades, a desunião entre gaibéus e rabezanos é triste e profético paradigma das oposições, ainda hoje bem marcadas, entre os camponeses dos minifúndios e os dos latifúndios. Redol acreditava que seria possível o «casamento» entre uns e outros quando descobrissem que a mesma fome os une. É disso exemplo simbólico a parábola dos quatro jovens rabezanos e dos três jovens gaibéus. Alexandre Pinheiro Torres

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