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domingo, 22 de fevereiro de 2015

Alda Maria Fernandes

Alda Maria Fernandes
A Força da Luta pela Liberdade

Só por si e por de tal modo sugestivo, o título do romance já é bandeira simbólica de uma causa tão fundamental como o ar que se respira: a liberdade de pensamento e expressão.
Num enredo urdido na experiência pessoal e talhado na ficção, a autora escora-se em factos da vida real que os leitores maduros, se os não testemunharam, pelo menos deles tiveram notícia, enquanto que para os mais novos eles são uma curiosidade a confirmar pelo retrovisor do tempo.
Açoriana micaelense, Alda Maria Fernandes frequentou o liceu de Ponta Delgada e em 1967 arribou ao continente como bolseira, tendo concluído a licenciatura em Filologia Germânica na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa.
Nessa época – e a geração coeva bem se recorda – a ditadura de inspiração fascista governava com mão de ferro um país marcado pela clamorosa assimetria social e económica, onde pequenos deuses caseiros e seus caciques sugavam o suor de um povo de brandos costumes que sofria as passas de todos os algarves.
Nos campos e nas fábricas, assalariados rurais e operários eram vítimas indefesas da gula e da rapina de latifundiários e patrões.
Na guerra colonial desencadeada em 1961 pelos Movimentos de Libertação indígenas nas então denominadas províncias ultramarinas, a nossa tropa era dizimada na flor da vida ou de lá voltava estropiada e traumatizada. Enquanto isso, Salazar e depois Marcelo Caetano recusavam uma solução política para o conflito, faziam ouvidos de mercador aos apelos da comunidade internacional e declaravam-se "orgulhosamente sós" num Portugal virtualmente soberano desde o Minho até Timor.
Devido à hemorragia da emigração "a salto" para França e Alemanha, a nação agonizava na cauda da Europa, sem oportunidades nem horizontes.
As universidades (Lisboa, Porto e Coimbra) eram inatingíveis aos filhos de camponeses e artífices e nelas era debitado da cátedra um ensino escolástico, nada pragmático nem virado para o mercado de trabalho dos futuros licenciados.
A Censura castrava a informação na imprensa, rádio e televisão, como apreendia nas livrarias obras editadas por intelectuais rebeldes.
A polícia política (PIDE/DGS) perseguia, detinha, espancava, torturava, encarcerava e matava sem dó nem piedade qualquer cidadão suspeito de oposição à política oligárquica do Estado Novo. Por seu turno a guarda nacional republicana (GNR) reprimia e desmobilizava com cavalos, balas e bastões, qualquer foco de agitação laboral, quer os alvos fossem uma ceifeira em Baleizão ou um vidraceiro na Marinha Grande.
Na década de 60 alojou-se nas academias universitárias o "vírus" da reforma e da democratização do ensino. Foi o rastilho da contestação ao sistema e ao regime que também contagiou a autora.
Simultaneamente, o Partido Comunista Português não dava tréguas à luta pela queda do aparelho repressivo constituído e organizava o seu trabalho de resistência, abrindo os olhos ao povo resignado, concertando acções de combate político com intercâmbio de informação entre camaradas clandestinos no território nacional e exilados no estrangeiro. Militantes e adeptos doutras ideologias democráticas seguiam-lhe o exemplo.
À medida que a revolta alastrava, a repressão crescia em espiral, até que o descontentamento instalou-se no seio das Forças Armadas pela mão dos jovens capitães milicianos.
Depois de uma tentativa gorada em 16 de Março de 1974, a partir do Regimento de Infantaria das Calcas da Rainha, o Movimento das Forças Armadas (MFA) conseguiu, finalmente, na madrugada de 25 de Abril, apanhar em gorro e ceroulas os administradores dos pontos nevrálgicos do Poder. A Revolução dos Cravos triunfava sobre a reacção dos tiranetes.
A Liberdade enxurrava nas ruas de Lisboa, fazia eco nas montanhas, varria as planícies e viajava nas asas das gaivotas até às grades das celas de Caxias e Peniche!
Um romance histórico. Um livro para memória futura. Parabéns, Alda Fernandes.
Prates Miguel

A Força da Luta pela Liberdade
ALDA MARIA FERNANDES
Folheto Edições
336 pp.

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